Fonte: http://www.claudiawallin.com.br/2015/10/03/a-diferenca-entre-ser-professor-na-finlandia-e-no-brasil/
A carreira de professor na Finlândia tornou-se uma das principais preferências entre os jovens, à frente de profissões como medicina, direito e arquitetura.
“O magistério na Finlândia é uma carreira de prestígio”, diz o professor Martti Mery na escola finlandesa Viikki, que também funciona como um centro de treinamento de professores vinculado à Universidade de Helsinque.
“A profissão possui um alto status em nossa sociedade, que tem grande respeito e consideração pelos professores”, ele acrescenta.
A invejável cultura finlandesa de dignidade profissional dos docentes e respeito ao professor foi construida a partir na revolução educacional conduzida pela Finlândia a partir dos anos 70, que alçou o país para as posições mais elevadas do ranking mundial de desempenho escolar.
A transformação que se produziu incluiu um fator de relevância especial: o nível de excelência dos professores. Todos os programas de formação de professores, que anteriormente eram realizados fora do âmbito do ensino acadêmico superior, foram levados para dentro das universidades, todas elas gratuitas. Mas obter um mestrado tornou-se a qualificação básica e obrigatória de um professor para poder ensinar nas escolas Finlandesas – mesmo na educação pré-escolar.
“No fim dos anos 70, a formação dos professores Finlandeses passou a constituir um programa de mestrado com cinco anos de duração, que se dá portanto nas Universidades do país. Desde então, gradualmente cresceu entre os professores o sentimento de pertencer a uma categoria profissional altamente educada e prestigiada”, diz o educador finlandês Pasi Sahlberg, um dos arquitetos do chamado milagre finlandês.
A exigência do grau de mestre para os docentes foi uma medida significativa da reforma educacional, observa Sahlberg:
“Isso não só elevou toda a categoria dos professores como profissionais, como passou a dar a eles um profundo conhecimento sobre os mais recentes avanços da pesquisa em suas respectivas áreas de ensino”, ele diz.
Outro aspecto crítico para o sucesso do modelo Finlandês foi o desenvolvimento de uma relação de respeito com o professor, e de boas condições de trabalho nas escolas. Como, por exemplo, uma divisão equilibrada do tempo em que um professor necessita trabalhar dentro e fora da sala de aula.
É esta, dizem os Finlandeses, a melhor forma de atrair profissionais jovens e talentosos para a carreira de professor nas escolas públicas.
“A experiência finlandesa mostra que o principal é garantir que os professores sejam tratados com dignidade, a fim de que possam concretizar o objetivo de escolher o magistério como a carreira de uma vida inteira”, enfatiza Pasi Sahlberg.
Cursos de doutorado para professores também são disponibilizados, gratuitamente, nas Universidades do país. O Estado Finlandês investe ainda cerca de USD 30 milhões a cada ano para o desenvolvimento profissional de professores e diretores de escola, através de cursos universitários e programas de reciclagem.
A cada primavera, milhares de jovens se candidatam a uma vaga para estudar nos departamentos de formação de professores das universidades da Finlândia.
Mas apenas os melhores e mais preparados estudantes podem se tornar professores na Finlândia: no exigente sistema Finlandês, apenas cerca de 10% dos candidatos são em geral aprovados para cursar o obrigatório mestrado na universidade.
“A carreira de professor é extremamente popular aqui na Finlândia. Mas os exames de admissão são competitivos a tal ponto, que chegam a intimidar os candidatos. Por isso, nem todos os estudantes que desejam seguir o magistério chegam a se candidatar, por medo da reprovação”, diz Niklas Nikanorov, do Ministério da Educação e Cultura Finlandês.
Em 2014, diz Nikanorov, apenas 8,9% dos 7.469 candidatos ao curso de formação de professores da Universidade de Helsinque foram aprovados. No mesmo ano, 1.597 estudantes candidataram-se ao curso de medicina da instituição, e 11,7% foram aceitos.
Sim, é isso mesmo: na Finlândia, o magistério é mais popular que a medicina.
“Do total de 139 mil estudantes universitários em todo o país, mais de 10% estudam ciências educacionais”, acrescenta Niklas Nikanorov.
Para realizar o sonho de se tornar um professor, um jovem Finlandês deve ser dono de um robusto currículo escolar – além de obter excelentes notas na prova nacional de conclusão do ensino secundário, e também no exame prestado especificamente para a candidatura ao curso universitário, com perguntas focadas em um amplo conjunto de tópicos educacionais.
Na segunda fase de seleção para o acesso à universidade, os candidatos mais bem colocados da etapa inicial passam por uma série de entrevistas para explicar, por exemplo, porque decidiram se tornar professores. No final, só entram os best and brightest.
“Controlar o desempenho do professor não é uma questão relevante na Finlândia. A premissa básica é de que os professores são, por definição, profissionais altamente educados que realizam o melhor trabalho possível nas escolas”, diz o educador finlandês Pasi Sahlberg.
Entregar a liderança do sistema a profissionais da educação também é parte da fórmula do milagre finlandês, observa Pasi Sahlberg:
“Discordamos da visão de que a melhor forma de desenvolver a educação é colocar o controle das escolas nas mãos de administradores sem experiência no setor, na esperança de que um gerenciamento de estilo empresarial vá elevar a eficiência. Na Finlândia, todas as autoridades do setor de educação estão, sem exceção, nas mãos de educadores profissionais”, ele destaca.
A taxa de sindicalização da categoria é uma das mais altas do mundo: 95% dos professores finlandeses são filiados ao poderoso Opetusalan Ammattijärjestö (OAJ), chamado de “A Voz dos Professores”.
Fonte: http://www.claudiawallin.com.br/2015/10/03/a-diferenca-entre-ser-professor-na-finlandia-e-no-brasil/