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Cientista brasileiro vende empresa de biotecnologia por R$ 1,5 bilhão

02/05/2017 11h13 | Atualizado em: 02/05/2017 11h20

Uma empresa de biotecnologia fundada nos Estados Unidos com a ajuda de um pesquisador brasileiro foi vendida neste mês para a Roche por US$ 425 milhões.
Uma empresa de biotecnologia fundada nos Estados Unidos com a ajuda de um pesquisador brasileiro foi vendida neste mês para a Roche por US$ 425 milhões (pouco mais de R$ 1,5 bilhão no câmbio atual).

A GeneWEAVE Biosciences foi cofundada por Leonardo Maestri Teixeira junto com outro amigo durante o período em que estava na Universidade de Cornellpara desenvolver o doutorado.

Teixeira foi bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC). De acordo com a Capes, a ideia da empresa surgiu em uma disciplina sobre empreendedorismo e acabou executada paralelamente às atividades do bolsista.

"Tínhamos que trabalhar um plano de negócios conceitual em cima de uma ideia. Discutimos sobre diversas ideias, até resolvermos buscar um problema de países em desenvolvimento como o Brasil", explicou. O diagnóstico da tuberculose foi o primeiro foco, depois alterado para infecção hospitalar.

"Buscamos uma solução para a erradicação da tuberculose, focando no diagnóstico. Daí surgiu o conceito da tecnologia, que posteriormente patenteamos e aprovamos um projeto para o desenvolvimento da prova de conceito da ideia que tivemos", relatou o brasileiro para a Capes.

Diante dos primeiros bons resultados, Teixeira partiu para obter recursos em competições para empreendedores. Com os prêmios em dinheiro conquistado nessas "disputas de plano de negócio", a equipe foi ampliada e o foco, alterado.

"Para conseguirmos capital semente, mudamos o foco do nosso kit de diagnóstico de tuberculose para infecção hospitalar, já que este era um problema dos EUA, e consequentemente facilitaria a captação de recursos", disse.

Investimento e retorno

Entre 2010 e 2014, a empresa captou US$ 25,2 milhões de dólares junto a investidores. Por isso, Teixera lembra que na venda da empresa, como ocorre com a maioria das start-ups, os investidores ficarão com boa parte do valor da venda.

"(...) Sofri uma grande diluição durante os investimentos, o que é normal em uma empresa que recebe recursos de capital de risco. E que estes investidores ficam com a maior parte do retorno da venda. Isto é normal, já que o risco de capital é todo deles. Enfatizo isto para os que não são familiarizados com estes negócios acharem que fiquei bilionário", disse.

Segundo o pesquisador, a venda da GeneWEAVE sempre foi uma das hipóteses consideradas pelo grupo. "Desde 2014 já temos alguns equipamentos em teste em alguns hospitais, e começamos a apresentar os resultados em algumas feiras setoriais, já no intuito de divulgar o produto e a empresa para uma possível venda, que ocorreu no início de agosto", contou Leonardo.

"A aquisição teve um aporte inicial de apenas 40% do valor, ficando o restante dependendo dos resultados e metas negociadas. Ou seja, apenas começou. Nosso objetivo é realmente ver o produto em todos os hospitais, salvando milhares de vidas por ano, já que esta foi a proposta inicial", explica.

Em nota, a Roche justificou a aquisição para seus investidores afirmando que a GeneWEAVE tem uma solução inovadora para diagnóstico molecular que identifica rapidamente organismos resistentes e avalia sensibilidade aos antibióticos diretamente a partir das amostras clínicas, sem processos complicados e demorados.

O produto desenvolvido pela empresa fundada pelo brasileiro foi considerado um "novo paradigma" pela Roche.

Trabalho paralelo

Apesar de a ideia do projeto ter surgido durante uma disciplina, todo o desenvolvimento ocorreu sem tratar do mesmo tema específico do doutorado, realizado entre os anos de 2004 e 2008.

"O trabalho da tecnologia da GeneWEAVE foi feito em paralelo por exigência do meu orientador, já que o desejo de trabalhar em algum projeto para iniciar uma empresa surgiu em uma disciplina de empreendedorismo", explicou.

Teixeira resssalta que o trabalho da disciplina não tinha relação específica com o trabalho de conclusão da tese. "O projeto da empresa, assim como o modelo de negócios inicial foi elaborado nesta disciplina, ainda sem trabalho de bancada. Por incrível que pareça, nós dois ficamos com uma péssima nota nesta disciplina, na verdade a pior do meu histórico!", lembra bem-humorado.

A trajetória acadêmica da Teixeira foi marcada pelo foco na pesquisa, com apoio da Capes. "Durante a minha graduação em Ciência e Tecnologia de Laticínios na UFV tive bolsa de iniciação científica e, posteriormente com bolsa da Capes, fiz meu mestrado em Microbiologia Agrícola nesta mesma instituição."

De volta ao Brasil, Teixeira acredita que o conhecimento obtido no exterior está sendo revertido para o país. "Hoje sou diretor-presidente de um instituto (Instituto de Tecnologia e Pesquisa - em Sergipe), que é uma referência nas áreas de atuação, com mais de 60 pesquisadores doutores, muitos deles com bolsa de produtividade em pesquisa."