Uma escola pública de Itajaí (SC) resolveu introduzir questões sobre cidadania e gênero em uma atividade extracurricular curiosa para os dias de hoje: o crochê. As educadoras do Centro de Educação Integral Dilzelena Márcia Teixeira viram no ensino de costura para meninos e meninas de 6 a 14 anos um bom cenário para discutir temas como a igualdade sexual.
Os alunos da turma da professora Fátima Demartino, 52, são orientados e estimulados a produzir toalhas, almofadas e bolsas, reaproveitando sobras de lã, tecido, barbante, entre outros materiais em desuso.
A atividade, que não é obrigatória, agrada tanto que é comum se formarem no pátio, durante o recreio, rodas de estudantes manipulando as agulhas de costura.
"A turma tem 15 alunos, mas na minha mesa agora tem 35 trabalhos em andamento, porque até alunos de outras turmas se interessam e querem aprender a tricotar", conta Fátima, que ensina crochê na escola desde 2012.
Embora os alunos fiquem com os produtos das aulas, a educadora diz que o foco das confecções não está no resultado, mas no processo.
"Nós também conversamos sobre consumismo infantil, a sustentabilidade, meio ambiente e sempre enfatizamos sobre os malefícios dos preconceitos sociais, como o de que meninos não costuram e meninas não jogam futebol", explica.
Pedro Henrique Pereira Vioto, de 9 anos, que já fez uma correntinha, um caminho de mesa e está confeccionando discos para pratos, não se contenta em praticar o crochê só na escola. "Estou ensinando minha mãe", conta, orgulhoso.
O pai de Pedro é presidente da Associação de Pais e Professores. Emerson Flávio Vioto, 45, diz que a atividade tem melhorado a concentração e estimulado o filho a aprender coisas novas.
"Ele até troca o videogame pelas agulhas. Fica empolgado quando termina alguma produção. Tem sido bastante benéfico", afirma ele.
Como representante dos pais, Vioto diz que a aceitação é geral. "Todos acompanham com satisfação a atividade, pois é nítido que melhora a atenção e é uma capacidade a mais que é desenvolvida", diz.
Fora as agulhas de crochê e os rolos de barbante, a sala da professora Fátima disponibiliza aos estudantes cinco máquinas de costura doadas por pessoas da comunidade e um tear feito com 40 madeiras e pregos. Um cenário bem diferente daquele encontrado quando surgiu a ideia de envolver os alunos na atividade de costura.
"Eu fazia crochê em casa, mas mais de curiosa. Não sou artesã. E na escola tinha uma máquina de costura encostada. Então, tive a ideia dar uso pra ela. A diretora consertou, juntamos os primeiros retalhos de pano e as sobras de barbante e fomos ensinando aos alunos, que receberam super bem", disse.
O material usado em sala é doado pela Secretaria Municipal de Educação, por pais e professores.
O Centro de Educação conta com 148 alunos da rede municipal de ensino, que são atendidos no contraturno das aulas regulares. A diretora, Adriana Souza, explica que em um primeiro momento que os estudantes cumpram com os exercícios pendentes ou recebam algum reforço. Somente depois do intervalo é que são encaminhados para os projetos.
"A gente trabalha na formação como um todo. Além do projeto do crochê, temos outros nove professores que trabalham temas desde proteção animal e arte até discussões mais profundas sobre sentimentos como amor, raiva, tristeza e saudade", destaca.
Ao longo do ano, os alunos passam por até quatro projetos diferentes, oferecidos bimestralmente.